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sexta-feira, 13 de abril de 2012

Alexandre Espinheira --
Oxowusí

Camará - Conjunto de Câmara da UFBA | Projeto "Música Baiana?
Reitoria da UFBA, Salvador -- 08/12/11
 [video: emilio le roux | audio: alexandre espinheira]


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Alexandre Espinheira insistia numa versão matematicista de sua música Oxowusí. E eu insistia, do outro lado: "mas, e essa curva dinâmica?! Ela não pode ser puramente matemática." Fizemos deste debate uma primeira versão do vídeo que seria exibido imediatamente antes da performance de sua peça, no concerto de lançamento do projeto "Música Baiana?"

No dia seguinte, o próprio Alexandre me envia uma outra versão, agora toda focada nem na parte racionalista da música, nem em seu contorno dramático ou expressivo, mas na história que, de uma forma ou de outra, está por detrás da composição da obra.

Oxóssi é o orixá da caça, o responsável por matar o temido dragão que assolava a sua terra e cuja morte tinha sido adiada por caçadores de 20, 40, 100 flechas, para acabar sob a mira de uma apenas flecha do caçador, saudado por Oxowusí, que quer dizer "caçador de uma flecha só."

Você consegue "enxergar" essa história ao ouvir a música?

O próprio Alexandre não revela se a composição segue essa narrativa mítica. Apenas sinaliza que diversas marcas rituais do orixá são a base dos materiais utilizados para a composição da peça que é um desdobramento racional-matemático e expressivo de sua necessidade de falar das histórias e ritmos do lugar onde vive, Salvador da Bahia. 


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Mr. Espinheira insisted on a mathematicist version of your work Oxowusí. On the other hand, I did insist as well: "see this dynamic's curve?! It can't be merely mathematics." So we did the first version of the film which should be exhibited before the work's performance, last December.

Next day, Mr. Espinheira himself sent me another version of the film, this time focused neither on the rationalist part of the composition nor on it's dramatic contour, but on the story which lies behind it's creation.

Oxóssi is the hunting orisha, responsible for killing the fearful dragon which used to attack his land using only one arrow, while other hunters had tried to do that using 20, 40 and even more arrows.

Can you "see" this story when you listen to the music?

Mr. Espinheira doesn't reveal whether his work follows this narrative or not. He only points that several Oxóssi's ritual marks are the basis for the material utilized on the piece's composition, which could be seen as a mathematician-rationalist as well as an expressive unfolding of his necessity to talk about the stories and rhythms of the place where he lives, Salvador de Bahia.

sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

Paulo Rios Filho --
nav tirs nekadus hibridus nº 2

Camará - Conjunto de Câmara da UFBA | Projeto "Música Baiana?
Teatro Eva Herz, Salvador -- 16/12/11
 [video: emilio le roux | audio: alexandre espinheira]


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A primeira coisa que você deve estar se perguntando é: “que diabos de título é esse?” Certamente a intenção do compositor com esse título não era comunicar algo, como quem dá um “bom dia” ou manda o filho ir comprar pão. Mas de qualquer maneira, o seu nome pode ficar pra depois.

Antes, vamos falar um pouco sobre a própria música.

Para compor nav tirs nº 2, Paulo Rios Filho elegeu dois conjuntos de notas musicais como seu material básico e aplicou alguns procedimentos de derivação sobre eles.

De um lado, uma entidade musical familiar (a escala dórica) segue um caminho de autotransformação, numa viagem em direção à sua própria figura deformada – quando deixa de parecer familiar. Do outro, uma entidade musical da natureza (a série harmônica) se artificializa à medida que se aproxima de um ponto no futuro (e vira uma escala de tons inteiros).

Mas, no fim do trabalho do pedreiro, o material não importa tanto quanto a própria casa, que é a forma da maneira como ela é percebida.

Como você percebe essa música? Que imagens ela traz à sua cabeça?

nav tirs nekadus hibridus nº 2 é, segundo o compositor, o convívio de duas viagens paralelas, que se cruzam e se distanciam, em seus diversos momentos.

Essa é uma história cheia de intempéries; afinal são dois roteiros (que já carregam sub-roteiros dentro de si) com itinerários diferentes tendo que conviver dentro do mesmo mundo. É porrada pra lá, quebradeira pra cá, um grito aqui, um tapa acolá. No meio do caminho, porém, calha-nos deparar com paisagens repletas de lirismo. Percebam como no meio da música o clima geral da história muda de face. A porção inicial e a final, por sua vez, guardam semelhanças entre si.

O nome da música quer dizer “nem puro, nem híbrido” em letão. O título tem a ver com a “modificação genética” sofrida tanto pela escala dórica quanto pela série harmônica de dó.

Mas será que já não eram elas próprias frutos de outras modificações?


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"Neither pure nor hybrid." This is what the piece's title means in Latvian. The work is about imagining an anti-world, where things are not things, and about the perception of a trip or path taken by those who are natives and creators of this world, at the same time.

Firstly, a familiar musical entity (the Dorian scale) goes on a path of self-transformation, within a trip to your own deformed picture -- when it is not anymore familiar. 

On the other hand, a nature's musical entity (the harmonic series) denaturalizes itself while it gets close to a point in the future, and becomes a whole-tone scale. Both characters travel in the same direction, one of transformation, and their paths get mixed, interlaced, mopped and rubbed to each other (they caress themselves as well).

Listen to it, once this other world can be only listened to. The images they are by your own account.